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Versão Completa: “Virtualmente é-se quase invencível”
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O cyberbullying é a experiência na internet que mais traumatiza as crianças e jovens. Um comentário ou uma foto podem ser eternos e a humilhação é, por vezes, vivida perante milhares de pessoas. O psicólogo João Faria diz que os pais precisam de estar atentos e alerta para a necessidade de uma legislação que deixe claro como atuar nestes casos.

João Nuno Faria, responsável pelo Núcleo de Intervenção no Uso da Internet e das Telecomunicações do CADIN, é o primeiro a esclarecer o cyberbullying, o ato de hostilizar o outro através da internet ou do telemóvel, “acontece muito pouco no nosso país, isto comparando com a média europeia”. No entanto, “é a experiência de abuso na internet que mais traumatiza e que mais prejudica as crianças e jovens”, garante o psicólogo.

Existem duas grandes diferenças entre as agressões dentro e fora da rede. A primeira é que o cyberbullying é uma “experiência continuada no tempo”, diz o psicólogo. Um comentário ou uma imagem podem ficar eternamente online. A segunda diferença é a “quantidade de espetadores que poderão presenciar aquele episódio de vitimização” e, que, por vezes, o podem até reforçar.

“A experiência do ciberbullying pode ser potenciada pelos comentários de todos aqueles que observam, e que se transformam, de certa forma, em abusadores ao estarem a reforçar aquele dano”, explica João Faria.

Quanto ao agressor, a percepção do impacto é extremamente diminuída pelo efeito de desinibição online. “O abusador está invisível, está anónimo, não tem que respeitar obrigatoriamente limites. Virtualmente é-se quase invencível”, esclarece o psicólogo.

As vítimas de violência online e offline têm as mesmas características, aliás, refere João Faria, “existe uma grande replicação de papéis. Quem é vítima de bullying pode ser mais facilmente vítima de ciberbullying”.

Normalmente, os motivos de agressão são o aspeto da vítima, a forma como se desloca, os sítios que frequenta, as pessoas com quem se dá e os temas que mais aprecia.

João Faria defende que é necessário criar leis que regulem estes casos, para que os responsáveis saibam como agir numa situação de violência online. Quando o ato é praticado pelo colega da escola, quem deve receber a queixa? A escola, as autoridades, ou o site onde foi publicada a foto, o comentário, ou o vídeo? A questão da jurisdição é uma entre as várias que precisam de ser definidas para facilitar a atuação dos encarregados de educação e professores.



"Desligar-se daquele mundo é quase desligar-se de uma parte de si”, explica João Faria.
Os casos adição à internet e videojogos são mais comum. No último ano já chegaram ao CADIN sete casos de uso excessivo da internet ou videojogos e, normalmente, são os pais a procurar a ajuda da instituição.

No entanto, definir a partir de que momento o consumo se torna vício é mais difícil e ainda se debate no seio da comunidade científica. O indicador são seis horas seguidas. Todavia, refere o psicólogo, alguém que por razões profissionais esteja online durante várias horas não é necessariamente viciado.

Assim sendo, quando se fala em excesso, é preciso ter em consideração alguns sinais de alerta, como a diminuição do rendimento escolar, a existência de padrões de sono desregulados, a anulação de gostos e interesses concorrentes e uma irritabilidade quando o jovem está privado da utilização da internet.

A adição por jogos virtuais é dominante nos casos atendidos no CADIN. “A experiência de jogo retém muito o indivíduo. O jogador encarna um personagem e depois aquele mundo que vive online é uma experiencia muito rica. Portanto, desligar-se daquele mundo é quase desligar-se de uma parte de si”, explica João Faria.

O psicólogo acrescentou ainda que muitas vezes as figuras que os jovens representam online “têm um conjunto de características que eles gostavam de ter no mundo offline e que não conseguem, nomeadamente, ter boas competências sociais e organizar grupos, serem bem vistos e terem um estatuto”.

Tratar um caso de adição à internet ou videojogos não é como combater o vício da droga ou álcool. Não se pretende a eliminação completa da causa de adição, mas sim promover uma utilização saudável. A par disso, é necessário desenvolver um conjunto de outros interesses que sejam tão ou mais estimulantes que estar online.

“A internet não deixa de ser uma ferramenta extremamente útil, do quotidiano, e imprescindível no presente e no futuro. Logo, o grande objetivo é promover um uso consciente, regular e adequado da internet e da experiência de jogo”, remata João Faria.

Aberto desde julho de 2011, o objetivo do Núcleo de Intervenção no Uso da Internet e das Telecomunicações é a formação, prevenção, intervenção e investigação de problemáticas como a adição à internet e cyberbullying. Por outro lado, procura-se também mostrar como as novas tecnologias podem facilitar o desenvolvimento das crianças e jovens.

Fonte:http://noticias.sapo.pt/tec_ciencia/arti..._2481.html
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