Os Informáticos e os informáticos
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02-07-2010, 20:41
(Esta mensagem foi modificada pela última vez a: 03-07-2010 00:35 por NeMewSys.)
Mensagem: #1
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Os Informáticos e os informáticos
Tenho-me deparado, com bastante frequência, numa situação que me traz alguma indignação. É comum dizer-se que, saber falar com o cliente, saber colocar as nossas ideias, ouvir as do cliente, mostrar que estamos cientes dos seus problemas, e que temos como objectivo supremo, ajudar o cliente em tudo o que pudermos durante a nossa prestação de serviços, e claro, o cliente tem sempre razão, e como tal deverá ser respeitado, pois são parte importante, se não, a parte mais importante, de qualquer negócio. Apesar disso, há situações que, inegavelmente, são anedóticas, mas infelizmente, são capazes de afectar profundamente o nosso caminho para o sucesso. Em propostas de trabalho que eu faço, ou que me convidam, tenho notado que muitas vezes, sou ultrapassado por gente, que, nem metade das minhas habilitações tem. (Refiro-me claro, a situações cujos intervenientes não são entidades de grandes dimensões, apenas pessoas no seu singular em torno de pequenas "trocas de favores". A um nível empresarial, com empresas de grande dimensão e reconhecimento, estas situações muito raramente acontecem.) Como muita gente já deve ter reparado, a esmagadora maioria das pessoas, que em geral assume o papel de "cliente" nas nossas carreiras, não têm a mínima ideia dos graus de habilitações, que as pessoas a quem recorrem para resolver os seus problemas informáticos, possuem. Dito de forma crua, para uma pessoa descontextualizada da nossa área, um informático é aquele que sabe ligar o PC, e trabalha no MS-Office e consulta blogs, e em casos mais extremos, abre a linha de comandos do MS-DOS para abrir o mspaint ou o notepad. Ou pior, alguém que diz ou dá o aspecto de saber. Pois bem, já me encontrei muitas vezes a ser comparado com pessoas que, modéstia aparte, não têm nem metade do meu conhecimento na área. Todos nós sabemos que alguém que tira um curso profissional não tem a mesma preparação de quem tira uma licenciatura ou um mestrado. E como tal, não se poderá igualar a qualidade de um trabalho realizado por alguém que acabou o 12º ano, com o de alguém que tem licenciatura na área. Desculpem-me a rigidez, mas não se pode, por muita paixão que alguém que tenha apenas o 12º possua na área em questão, é impossível o seu trabalho ser tão bom como o de quem estudou mais além. Dizer o contrario é estar apenas a desvalorizar o trabalho de quem tira um curso superior, e tirar credibilidade às suas capacidades, e ao curso em si. Mas para o leigo empresário, não existe diferença entre um Técnico Informático, e um Engenheiro Informático, pois, como podem ver são só palavras (Mas não são!). O que o leigo empresário quer, é alguém que "desenrasque" os seus problemas, com o menor esforço possível, e isso, não tenham duvidas, define o sucesso da empresa em questão. Um bom empresário nunca se poderia guiar por esta "estratégia sem sentido". E isto é muito mau, mas mesmo muito mau, e as suas consequências alastram-se até as fronteiras da prática da nossa profissão. As poucas vantagens que isto traz, são apenas a curto prazo, isto se não contarmos, que nesta situação se está a desfavorecer um grande numero de pessoas com habilitações na área, em prol de quem nada ou pouco possui. Uma pessoa sem habilitações que se esconde atrás do nome de Técnico, ou Profissional, pode muito bem enganar o leigo empresário, mostrando que sabe fazer esta ou aquela acrobacia, seduzindo a sua atenção, que pensa estar a lidar com alguém que realmente percebe do que fala. Acabando assim por ser contratado para esta ou aquela tarefa. Passando alegremente a frente da concorrência. Pronto! Esta é a vantagem, passemos agora às desvantagens, e vejamos até onde se espalha esta praga. Como já deve ser da experiência de vida de muita gente, um individuo que conseguiu, através do jogo das aparências passar à frente de muita gente, não tarda em perceber que se-calhar, a expressão «é muita areia para o camião» começa a ganhar algum peso na sua carreira profissional. Desta forma, com o aumento gradual da complexidade das tarefas que lhe são pedidas, e graças a sua falta de conhecimento na área, conseguir manter o ritmo, e acompanhar os desafios propostos, torna-se numa situação infernal. Acabando possivelmente, na exclusão dos seus serviços. E como é claro, o individuo em questão, metendo no currículo que já trabalhou na empresa X e fez Y, consegue facilmente outro lugar, noutra empresa com outro patrão leigo no assunto. E nisto cria-se um ciclo vicioso, em que o individuo sem habilitações salta de trabalho em trabalho, parasitando assim inúmeras empresas ao longo da sua carreira. Possivelmente, fazendo com que este vá finalmente ganhando alguma experiência na área, conseguindo assim, estabilizar a sua conduta profissional. Por outro lado, um patrão que é leigo, contrata um técnico após outro, cometendo o mesmo erro vezes e vezes sem conta, até à extinção do seu pequeno negócio por falta de mão de obra competente. Isto leva a uma desconfortável situação, que é a realidade actual para 90% dos Engenheiros na área. Nós os Engenheiros Informáticos, somos muitas vezes subvalorizados, graças aos indivíduos que se fazem passar por nós, sujando assim a nossa imagem perante o mercado de trabalho. Manifestando-se por fim em, alta carga de trabalho, ou seja, muitas horas extras. Baixas remunerações, más condições de trabalho, e muitas das vezes, a necessidade de realizar projectos, cujos meios não o permitem, excepto aos olhos do patrão leigo na matéria. (Quem trabalha numa empresa de Outsourcing, cujo o nome não vou referir, que tentou converter uma plataforma que funcionava em COBOL para a linguagem de 4ª geração SAS, sem sucesso, deve ter uma ideia do que estou a dizer acerca de projectos que não têm pés nem cabeça). Nisto, perde-se tempo, e com o tempo, dinheiro, e como tal, adquire-se uma qualidade de vida pior para quem trabalha na área! Muitas vezes vemos gente sem formação a gerir projectos de grande magnitude, gente essa que muitas vezes não possui a mínima noção da complexidade daquilo que estão a propor, e como tal, a remuneração há-de reflectir essa noção. Já devem ter reparado também, que enquanto vocês tiram o curso superior, terão amigos vossos que com o tempo que vocês estão a tirar o curso, já se encontram a ganhar tanto como vocês vão ganhar no inicio de carreira. O que é vergonhoso e mais uma vez desvaloriza quem possui habilitações. Por outro lado, temos empresas que, aproveitando-se dessas pessoas que não percebem a diferença entre Engenheiro, Técnico e afins, prometem oferecer formações "magicas" que tornam as pessoas em mestres na informática em apenas 6 meses. Lançando para o mercado, pessoas sem qualquer habilitação, arruinando ainda mais a nossa imagem, e, possivelmente, dando falsas esperanças a muita gente que se dedicou a esse curso, e pagou bem por ele. Para concluir: este desabafo teve origem numa situação recente pela qual passei, mas não inédita, em que uma entidade (não vou referir nomes), me pede para realizar tal serviço, mas, seguindo a lei do menor preço, decidem optar por escolher uma pessoa com menos habilitações que eu. Resultado: Passado um mês, a pessoa que eles contrataram demitiu-se por não conseguir acompanhar a dificuldade do projecto, e, como a entidade já gastou recursos no projecto inacabado (ou melhor, mal iniciado), que não pensa voltar a gastar, o projecto já não tem "pernas para andar". Pode-se dizer que essas pessoas, tomaram, no mínimo, um banho de agua fria. Por isso, já era altura de se informar o zé povinho, de forma a valorizar o nosso trabalho, pois não é fácil ser informático como muita gente faz parecer, e nem tudo gira à volta do MS-Office e do Internet Explorer! Toca a promover a nossa imagem caros colegas! Cumprimentos. -NeMewSys |
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