“Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia”
|
24-09-2012, 23:41
Mensagem: #2
|
|||
|
|||
RE: “Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia”
A mulher que marcou a maior 'manif' de sempre do país
E se um abraço entre uma mulher e um polícia se transformasse no símbolo de uma manifestação que tinha tudo para poder dar para o torto? No passado sábado, quando saí à rua para me manifestar, confesso que não acreditaria se me dissessem que isto ia acontecer. Não que eu duvidasse da passividade (por vezes demasiado grande) dos portugueses. Afinal, não foram os cravos o grande símbolo da nossa revolução de 74? Mas fosse em cafés, supermercados, transportes e por aí fora as conversas deixavam claro que os ânimos andavam exaltados. Quando cheguei a casa e vi a foto de uma rapariga abraçada a um polícia, no meio do arraial de tomates e petardos atirados à porta dos escritórios do FMI, senti orgulho. Nela, nele, em nós. Em todos os portugueses que - tal como se tem escrito pela Web - perderam a paciência, mas não a calma. E que souberam fazer daquela tarde, um momento memorável: não só porque éramos mesmo muitos na rua e foi o maior protesto de sempre no país, mas também porque tivemos um comportamento de massas de uma maturidade exemplar, em que a violência não fica definitivamente para a história. A Bela e o Monstro? E Adriana e Sérgio são a personificação dessa tarde. A jovem algarvia de saltos rasos queria "ter um gesto de amor e de paz" naquela que era a sua primeira manifestação, disse ao jornal "Público". Tem o seu futuro na corda bamba se quiser continuar a viver no seu país, mas ao olhar para Sérgio, com a farda de polícia "e olhar triste" por trás da viseira, percebeu que com ele se poderia passar o mesmo. Aproximou-se e perguntou-lhe: "Por que é que vocês estão aqui?". E ele respondeu: "Porque é o nosso trabalho". E ela, irrequieta nos seus frescos 18 anos, continuou: "Mas não gostava de estar deste lado e vir connosco?". E ele respondeu-lhe com silêncio e um olhar sobre a multidão. Nem sempre as palavras dizem tudo e aquele gesto era cheio de sentido. Adriana afastou-se e ficou a pensar. Sérgio, em entrevista ao jornal "i", contou o que lhe passou pela cabeça na altura: "Ali estávamos nós, com aquele oceano de gente pela frente. Já tinham sido arremessados tomates, garrafas de vidro, petardos que nos rebentavam nos pés e deixavam os ouvidos a zumbir. Mas o sentimento permanecia. Apesar de estar ali como agente do Corpo de Intervenção, também sinto na pele as decisões do Governo". Como se lhe lesse os pensamentos, Adriana voltou passados alguns minutos e, sem lhe dizer nada, abraçou-o. E a senhora da Avenida de Berna, lembram-se? O momento foi registado pelo fotógrafo do Expresso Nuno Botelho. "Ficaram assim alguns segundos e por fim ele disse-lhe: 'Pronto, já chega'. E depois não a empurrou, foi ele que se afastou com calma" relatou-me o meu colega, que ainda hoje se sente impressionado com o "momento de serenidade misturada com perplexidade, que abriu o sorriso a todos os presentes". Sem mais palavras, Adriana seguiu para "a luta" e Sérgio ficou a cumprir o seu dever. Já antes três jovens tinham-se metido entre os polícias e os manifestantes quando alguns arruaceiros com nervos a mais (e noção de atitude a menos, digo eu) decidiram atirar garrafas aos agentes. De braços no ar pediam para que não houvesse tal tipo de atitudes. E a verdade, é que não as houve em larga escala. O meu aplauso aos manifestantes, mas também uma demorada vénia aos polícias que, tal como o povo, não perderam a calma e souberam gerir pacificamente as provocações idiotas na escadaria da Assembleia, dos poucos manifestantes que não estiveram à real altura deste dia. À Adriana e ao agente Sérgio, que entretanto têm a sua foto a correr o mundo, os meus parabéns pela atitude. E já que estou numa de elogios, aproveito para dar o último à velhinha que batia freneticamente com os tachos na varanda da Avenida de Berna e só deixou de puxar pelo multidão quando o filho, preocupado com a sua saúde, a convenceu a voltar para casa. Duas mulheres, duas portuguesas, duas gerações, uma só causa. Porque o país ainda é de todos nós. Fonte:http://expresso.sapo.pt/a-mulher-que-mar...z27QhiX400 Progster |
|||
« Mais Antigo | Mais Recente »
|
Mensagem neste Tópico |
“Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia” - progster - 18-09-2012, 16:21
RE: “Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia” - progster - 24-09-2012 23:41
|
Utilizadores a ver este tópico: 1 Visitante(s)