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“Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia”
18-09-2012, 16:21
Mensagem: #1
“Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia”
A rapariga fotografada a abraçar um polícia em frente aos escritórios do FMI durante a manifestação de sábado não tem partido e acredita que o mundo podia viver sem dinheiro. “Queria ter um gesto de amor.”

Tem 18 anos, é de Lagos e nunca tinha ido a uma manifestação. Não acredita em partidos, nem no dinheiro — “O dinheiro só gera maus sentimentos, só gera ódios.” Adriana Xavier é o nome da jovem que no sábado saiu à rua naquele que foi o seu primeiro protesto. As câmaras dos fotógrafos apanharam-na em frente aos escritórios do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Lisboa, num ambiente de tensão. Havia manifestantes a atirar tomates. Um petardo tinha rebentado havia pouco. Adriana aproximou-se de um polícia e abraçou-o.

Essa imagem está a correr nas redes sociais e alguns até consideram que se tornou um símbolo. Publicada em vários sites internacionais, mostra a jovem, de cabelos longos, abraçada a um agente do corpo de intervenção de capacete e viseira fechada.

José Manuel Ribeiro, fotojornalista da Reuters, estava no local. “Saí da Praça José Fontana [onde começou a manifestação] e tinha decidido que ficaria junto aos escritórios do FMI porque achava que seria ali que podia acontecer alguma coisa mais grave. A certa altura vi um vulto a dirigir-se a um polícia e pensei: ‘É agora!’ Rodeei outro agente e fotografei. Não estava à espera que fosse um abraço”, conta. Enviou a imagem. Continuou a trabalhar. E só mais tarde percebeu que tinha sido destacada pela Reuters. “Quando cheguei a casa de madrugada percebi que tinha sido publicada na Nova Zelândia” e no dia seguinte viu-a nas páginas do jornal brasileiro O Globo.

“Decidi à última juntar-me à manifestação” contra as medidas de austeridade, conta, por seu lado, Adriana Xavier em entrevista telefónica ao PÚBLICO. “Estava a gostar de ver o povo unido, apesar de eu não ser de gritar. Mas é bonito ver o povo unido por uma causa.”

Quando percorria com centenas de milhares de outras pessoas a Avenida da República percebeu “que havia confusão” num certo ponto. “Soube então que estava ao pé do FMI. Aproximei-me porque tinha curiosidade. Estava só ali, a observar a reacção dos polícias porque sei que por detrás deles há muito poder e que eles são marionetas. Estão ali porque recebem dinheiro para alimentar os filhos. Às vezes vemos os polícias partir para a violência e aproximei-me porque queria perceber o que é que eles eram capazes de fazer. Porque eles também são o povo, também estão a ser prejudicados com as medidas [do Governo].”

A certa altura, fixou-se num agente em particular. “Já tinha sido lançada uma bomba de fumo”, diz. “Já tinha olhado para ele, quando ele ainda não tinha a viseira. Tinha um olhar triste. Mas tinha um olhar aberto também. Sou muito sensível nestas coisas”, conta a aluna de Artes Visuais. “Fui ter com ele e perguntei-lhe: ‘Por que é que vocês estão aqui? Para provocar alguma reacção má?’ Ele disse: ‘É o meu trabalho.’ Depois perguntei: ‘Não gostava de estar deste lado?’ E ele não respondeu. Olhou em frente.”

Adriana voltou a afastar-se, os gritos à sua volta continuavam, depois pensou: “Pensei uma, duas, três vezes. E aproximei-me dele. Acredito que se der amor, recebo amor. E foi por isso. Queria ter um gesto de amor. Queria ter uma reacção boa naquele momento, não quero ter sentimentos maus. Aproximei-me dele, abracei-o. Ele ficou estático. Depois afastou-se suavemente. Não me afastou, afastou-se.”

A aluna que só não concluiu este ano o 12.º ano por causa da disciplina de Geometria Descritiva acha que não fez nada de especial: “Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia. Já tinha visto outras imagens assim.” Diz que se limitou a querer passar uma mensagem de amor. “Aquela imagem é o que eu sou. Acredito que em breve vai haver uma mudança. Espiritual.”

José Manuel Ribeiro não estava à espera de receber tantos comentários por causa da fotografia que fez — uma fotografia que tem qualquer coisa de “A bela e o monstro”, com “o polícia com aquela luva grossa a agarrar naquele bracinho”. Mas garante que não é raro que isso aconteça — fixa-se uma imagem de um momento sem saber minimamente o impacto que ela vai ter quando chegar aos jornais, à Internet. Há, no entanto, excepções, e ele próprio lembra-se de uma: “Lembro-me de uma fotografia de Hugo Correia [também da Reuters], de uma jornalista da France Press a ser batida por um polícia no Chiado, na greve geral, em Março. Olhei para aquela fotografia, que mostra exactamente o contrário desta imagem, e pensei na altura: ‘Isto vai dar voltas!” Mesmo assim, deu “ainda mais voltas” do que estava à espera.Notícia corrigida às 16h38."dezenas de milhares" passou a "centenas de milhares".
Notícia actualizada às 18h48.Acrescenta declarações do fotojornalista José Manuel Ribeiro.

Fonte:http://www.publico.pt/Sociedade/nao-fui-...3434?all=1

Progster
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24-09-2012, 23:41
Mensagem: #2
RE: “Não fui a primeira pessoa no mundo a abraçar um polícia”
A mulher que marcou a maior 'manif' de sempre do país

E se um abraço entre uma mulher e um polícia se transformasse no símbolo de uma manifestação que tinha tudo para poder dar para o torto? No passado sábado, quando saí à rua para me manifestar, confesso que não acreditaria se me dissessem que isto ia acontecer. Não que eu duvidasse da passividade (por vezes demasiado grande) dos portugueses. Afinal, não foram os cravos o grande símbolo da nossa revolução de 74? Mas fosse em cafés, supermercados, transportes e por aí fora as conversas deixavam claro que os ânimos andavam exaltados.

Quando cheguei a casa e vi a foto de uma rapariga abraçada a um polícia, no meio do arraial de tomates e petardos atirados à porta dos escritórios do FMI, senti orgulho. Nela, nele, em nós. Em todos os portugueses que - tal como se tem escrito pela Web - perderam a paciência, mas não a calma. E que souberam fazer daquela tarde, um momento memorável: não só porque éramos mesmo muitos na rua e foi o maior protesto de sempre no país, mas também porque tivemos um comportamento de massas de uma maturidade exemplar, em que a violência não fica definitivamente para a história.

A Bela e o Monstro?

E Adriana e Sérgio são a personificação dessa tarde. A jovem algarvia de saltos rasos queria "ter um gesto de amor e de paz" naquela que era a sua primeira manifestação, disse ao jornal "Público". Tem o seu futuro na corda bamba se quiser continuar a viver no seu país, mas ao olhar para Sérgio, com a farda de polícia "e olhar triste" por trás da viseira, percebeu que com ele se poderia passar o mesmo. Aproximou-se e perguntou-lhe: "Por que é que vocês estão aqui?". E ele respondeu: "Porque é o nosso trabalho". E ela, irrequieta nos seus frescos 18 anos, continuou: "Mas não gostava de estar deste lado e vir connosco?". E ele respondeu-lhe com silêncio e um olhar sobre a multidão.

Nem sempre as palavras dizem tudo e aquele gesto era cheio de sentido. Adriana afastou-se e ficou a pensar. Sérgio, em entrevista ao jornal "i", contou o que lhe passou pela cabeça na altura: "Ali estávamos nós, com aquele oceano de gente pela frente. Já tinham sido arremessados tomates, garrafas de vidro, petardos que nos rebentavam nos pés e deixavam os ouvidos a zumbir. Mas o sentimento permanecia. Apesar de estar ali como agente do Corpo de Intervenção, também sinto na pele as decisões do Governo". Como se lhe lesse os pensamentos, Adriana voltou passados alguns minutos e, sem lhe dizer nada, abraçou-o.

E a senhora da Avenida de Berna, lembram-se?


O momento foi registado pelo fotógrafo do Expresso Nuno Botelho. "Ficaram assim alguns segundos e por fim ele disse-lhe: 'Pronto, já chega'. E depois não a empurrou, foi ele que se afastou com calma" relatou-me o meu colega, que ainda hoje se sente impressionado com o "momento de serenidade misturada com perplexidade, que abriu o sorriso a todos os presentes". Sem mais palavras, Adriana seguiu para "a luta" e Sérgio ficou a cumprir o seu dever.

Já antes três jovens tinham-se metido entre os polícias e os manifestantes quando alguns arruaceiros com nervos a mais (e noção de atitude a menos, digo eu) decidiram atirar garrafas aos agentes. De braços no ar pediam para que não houvesse tal tipo de atitudes. E a verdade, é que não as houve em larga escala. O meu aplauso aos manifestantes, mas também uma demorada vénia aos polícias que, tal como o povo, não perderam a calma e souberam gerir pacificamente as provocações idiotas na escadaria da Assembleia, dos poucos manifestantes que não estiveram à real altura deste dia.

À Adriana e ao agente Sérgio, que entretanto têm a sua foto a correr o mundo, os meus parabéns pela atitude. E já que estou numa de elogios, aproveito para dar o último à velhinha que batia freneticamente com os tachos na varanda da Avenida de Berna e só deixou de puxar pelo multidão quando o filho, preocupado com a sua saúde, a convenceu a voltar para casa. Duas mulheres, duas portuguesas, duas gerações, uma só causa. Porque o país ainda é de todos nós.

Fonte:http://expresso.sapo.pt/a-mulher-que-mar...z27QhiX400

Progster
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