Sendo verdade...

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[font=Arial, Helvetica, sans-serif]Líder incontestável. Falta tudo o resto.[/font]

Seguro ofereceu a Costa, com estas primárias, uma liderança com legitimidade reforçada que, a não ser que o PS perdesse as próximas eleições legislativas, tão cedo não poderá ser contestada internamente. Costa esmagou, mas com a quantidade de obstáculos processuais que Seguro foi pondo no caminho, foi obrigado a abrandar a corrida para o governo. E, ao abrandar, ficou mais evidente que falta acrescentar substância ao seu carisma e popularidade.

As altas taxas de participação nas suas primárias foram uma boa notícia para o Partido Socialista e, em especial, para António Costa. Com estes resultados, conseguidos com o voto de tanta gente ansiosa por correr com António José Seguro, a sua liderança nasce com uma legitimidade nunca antes experimentada por qualquer líder socialista. Mais: o comportamento dos seus opositores foi de tal forma belicoso que Costa está livre para integrar ou não, na vida do PS, o núcleo duro de Seguro que, a partir do dia de hoje, se resume a meia dúzia de pessoas. Nem sequer deverá ter oposição interna no Congresso. Ditas as coisas assim, tudo corre bem a António Costa. Só que o País não é o PS. Ao contrário do que pensa Marcos Perestrello, isto não foi a primeira volta das Legislativas. Há Portugal fora disto. E esse não me pareceu mobilizado pela campanha para as primárias do PS. Pelo contrário.

A esmagadora vitória de António Costa era, pelo menos para mim, mais do que previsível. E provou como a estratégia do discurso contra o sistema vinda de dentro do sistema não tem qualquer futuro. Nunca teria futuro vinda de alguém que nunca esteve noutro lugar que não fosse o sistema. Mas ela estaria sempre destinada ao fracasso. Porque, por mais irritadas que as pessoas estejam, aquelas que se dão ao trabalho de votar numas primárias do Partido Socialista estão preocupadas apenas com uma coisa: como garantir a derrota de Pedro Passos Coelho. E era por isso evidente que, pelo menos se muitos simpatizantes votassem, Costa esmagaria Seguro. E esmagou. Só que esmagar o opositor e "mobilizar Portugal", como pretende António Costa, são coisas muito diferentes.

Seguro ofereceu a Costa, com estas primárias, uma liderança com legitimidade reforçada que, a não ser que o PS perdesse as próximas eleições legislativas, tão cedo não poderá ser contestada internamente. Mas isso não correspondeu a um alargamento da área de influência do PS. Pelo contrário. A campanha suja de Seguro acabou por cansar os eleitores menos empenhados na vida do PS. E com a quantidade de obstáculos processuais que Seguro foi pondo no caminho, Costa foi obrigado a abrandar a corrida para o governo. E, ao abrandar, ficou mais evidente que falta acrescentar substância ao seu carisma e popularidade.

Depois das primárias de hoje, não tenho qualquer dúvida que António Costa será o próximo primeiro-ministro de Portugal. Os resultados garantiram que a oposição interna não terá qualquer espaço de manobra. A situação cada vez mais aflitiva de Pedro Passos Coelho não deixa grandes dúvidas sobre a inevitável mudança de ciclo na governação. O que não ficou claro nesta campanha, e nisso falhou a tentativa de "mobilizar Portugal", é que significado exato terá esta mudança de ciclo no rumo do País. Isso depende de Costa, do peso relativo das várias forças contraditórias que o apoiaram dentro do PS e, acima de tudo, do contexto político externo ao partido. Hoje, percebeu-se que o PS tem um novo e incontestável líder. Prevê-se que ele venha a ser o próximo primeiro-ministro. Mas não se sente um grande entusiasmo no País. Essa foi a batalha que Costa, até agora, não venceu.

Fonte: Expresso