Citar:Google desafia governo chinês e admite poder vir a ser forçada a sair do país
13.01.2010 - 08h54
Por PÚBLICO
A gigante de Internet Google está em rota de colisão com o governo chinês e já admitiu poder vir a ser forçada a sair do país, depois de ter anunciado o fim da censura nas pesquisas realizadas pelos cidadãos chineses no motor de busca, como era exigido pelas autoridades de Pequim.
A decisão surgiu depois de a Google ter identificado em meados de Dezembro “um ataque sofisticado e direccionado” por parte de hackers aos e-mails de activistas dos direitos humanos chineses, noticiou a BBC.
Um ataque originado na China, que a Google não atribuiu directamente ao Governo chinês, mas que levou a empresa a dizer-se indisponível para continuar a restringir os resultados das pesquisas na Internet e pôr fim à censura com que se comprometeu em 2006, quando iniciou actividade no mercado chinês.
Na sequência do anúncio, na quarta-feira a pesquisa por Tiananmen, a praça de Pequim onde, em 1989, uma manifestação de estudantes e professores foi brutalmente reprimida pelo exército, passou a liderar as pesquisas feitas no Google.cn. Também entraram para o top ten outras pesquisas relacionadas com esta decisão da empresa norte-americana.
A decisão da Google, que foi comunicada previamente à Administração Obama, já levou a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton a dizer que as alegações “levantam sérias preocupações e questões” e a revelar que os Estados Unidos estão a tentar obter explicações junto do governo chinês.
Uma fonte próxima da Google, citada pelo Financial Times, garante que a administração da empresa não teria tomado “uma posição tão extrema” se não tivesse a certeza que o ataque foi ordenado pelas autoridades chinesas.
Estes ataques, “combinados com outras tentativas, nos últimos anos, para limitar a liberdade de expressão na Internet, fizeram-nos concluir que deveríamos rever a exequibilidade das nossas operações na China”, sublinhou a Google, no seu blogue.
“Decidimos que já não estamos dispostos a continuar a censurar os nossos resultados [das pesquisas de Internet] “, prosseguiu a empresa, reconhecendo que a decisão poderá levar ao fecho do motor de busca e dos escritórios na China.
O objectivo primário dos hackers foi o de acederem às contas de e-mail de activistas, no que foram bem sucedidos em pelo menos dois casos. A Google também descobriu que os e-mails de dezenas de utilizadores do Gmail chineses, europeus e norte-americanos, que são advogados ou representam activistas dos direitos humanos chineses, foram “sistematicamente acedidos por terceiros”.
E acrescentou que pelo menos 20 grandes empresas internacionais, de diferentes ramos de actividade como os media e o sector financeiro, foram igualmente atacadas por hackers chineses.
A empresa norte-americana revelou que vai manter conversações com as autoridades chinesas nas próximas semanas, para chegar a acordo sobre a forma de cessar qualquer forma de censura ou interferência das suas actividades, dentro da lei. Mas se as conversações fracassarem, a saída do mercado chinês será a única alternativa.
Todavia, o anúncio público da Google de que poderá ter que abandonar o mercado chinês antes de iniciar quaisquer negociações oficiais deverá certamente ter desagradado ao governo de Pequim.
Em 2009, o Google chinês foi avaliado em mais de mil milhões de dólares, e os analistas apontavam para que a empresa obtivesse lucros de cerca de 600 milhões de dólares em 2010.
Fonte:
Público
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Finalmente, eis que a Google assume que servir os interesses do governo chinês não era uma atitude aceitável, quer a nível dos direitos humanos e da defesa da liberdade na Internet, quer ao nível da segurança informática.
Ninguém acredita que as autoridades de Pequim sejam tão incentes ao ponto de nunca tentarem atacar "sites" por onde circulam dissidentes políticos refugiados. A julgar pelas constantes atitudes da China, numa tentativa frustrada de censurar por completo material "indesejável", este "duro golpe" vindo do Google é de aplaudir!
O governo de Pequim não ficará muito contente, mas a bem da segurança informática global e da defesa dos direitos fundamentais do Homem, creio que esta é uma boa forma de pressão sobre o governo chinês para rever a sua política de censura electrónica, sob pena de, se as empresas estrangeiras começarem a se aperceberem dos riscos e perigos da continuação e endurecimento destas práticas, poderão reduzir a actividade no país e inclusivamente sair da China.