RE: Opinião: quem ganha a guerra entre Facebook, Google e Twitter?
gostei bastante do comentário do Luis migual Sequeira
Citar:E enquanto isso não acontece, lá vão vendendo anúncios e bases de dados com perfilagem dos clientes. Não é um mau negócio, não senhora.
Do ponto de vista tecnológico, isto pouco me preocupa. Acho bem que façam uma pipa de massa a vender serviços de identidade. Mas a nível social e legal acho isto altamente perigoso: estamos a entregar a nossa identidade a uma empresa privada que (se tiver 99% de quota de mercado, que não é implausível) não está sob controle de nenhum estado (excepto vagamente sob "controle" do sistema judiciário americano — podemos processá-los mas pouco mais). No entanto, há países — como a Austrália — que já servem as notificações dos tribunais via Facebook, porque dizem que as pessoas já não lêem os emails. Ora quando isto acontece significa que é efectivamente o Facebook que controla a relação entre os estados, os governos, e os seus cidadãos — mas não é, por sua vez, controlado por estes. Quando tiver 99% de quota de mercado, será tarde de mais — os estados perderão de vez a capacidade de gerir a identidade dos seus cidadãos, e estes perdem toda e qualquer capacidade de exercerem os seus direitos constitucionais relativamente à privacidade dos seus dados. Não vão ter hipótese, porque a legislação nos seus países de origem não os "protege" contra o Facebook.
Conclusão: pessoas como o jfacosta, que não usam o Facebook hoje, não vão ter outro remédio senão serem "obrigados" a fazê-lo daqui por 3, 4 anos, e depois será tarde demais: já estará tudo nas mãos do Facebook, que controlará todas as interacções de todos os governos do mundo com os seus cidadãos.
Pessoalmente o que me chateia é que se passaram décadas a tentar evitar que os governos e os estados tivessem controle total sobre a identidade das pessoas, criou-se excelente legislação para lidar com isto (tal como a regulamentação europeia das bases de dados com informação dos cidadãos europeus), deram-se excelentes passos para evitar que os estados caíssem na tentação de se tornarem "Big Brothers"... e depois? Havendo um "vazio" legal e uma oportunidade, as empresas privadas tomaram conta do recado, e estão "acima da lei" (porque os serviços que prestam são de adesão voluntária... e estão fora do alcance da legislação da maioria dos países do mundo).
Mas podes ir ainda mais longe. Tanto o Facebook, como a Google, como o Twitter já acrescentam a localização do utilizador — seja quando fazem posts via telelé, seja quando se ligam via rede fixa. É certo que isto é (actualmente) contornável, mas já requer algum conhecimento técnico. A informação da localização bastante precisa de mil milhões de pessoas no mundo, associada à precisão da identidade dos mesmos, tem um valor gigantesco. Mas também significa que deixámos de perder a capacidade de espirrar em nossa casa sem que essas empresas saibam precisamente quem somos, onde estamos, e quando é que espirrámos. Nem o "1984" de George Orwell previa cenários tão terríveis; havia hipóteses de "escapar" às câmaras do Big Brother. Com a actual tecnologia, e com toda a gente com um smartphone no bolso constantemente a actualizar a informação das pessoas, isto é um cenário bem mais terrível do que o de George Orwell — especialmente porque se podem derrubar governos com revoluções, mas não se podem derrubar empresas.
Pode-se, isso sim, legislar sobre o que as empresas estão ou não autorizadas a fazer. Mas o exemplo da Microsoft nos anos 90 — que preferia pagar multas de um ou dois milhões de dólares diários a remover o Internet Explorer do Windows — pode encorajar estes gigantes da informática a pura e simplesmente ignorarem as multas e decisões de tribunal para poderem evitar a legislação dos vários países. Quando se ganha 900 milhões de Euros por ano (mais 1.2 mil milhões em anúncios), pode-se dar ao luxo de pagar um ou dois milhões de Euros de multa *por dia* e mesmo assim ainda se ser lucrativo.
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